Os três pescadores

Depois de um dia de pescaria, três pescadores foram dormir, cada um em sua barraca, deixando os peixes em um tanque. Mas, no meio da noite, começou a chover forte. A chuva acordou um deles, que decidiu pegar sua parte dos peixes - um terço deles - e ir embora. Mas o número de peixes no tanque não era divisível por 3. Ele, então, jogou um de volta no mar e o que restou era divisível por três. Pegou um terço deles e foi embora.

         Mais tarde, um segundo pescador acordou e também resolveu pegar sua parte dos peixes e ir embora. Sem saber que um de seus companheiros já tinha ido embora, resolveu pegar um terço dos peixes, a sua parte na pescaria. Mas, novamente, o número de peixes no tanque não era múltiplo de 3; mas, se jogasse um de volta na água, seria. Fez isso, pegou um terço dos peixes e foi embora.
         O terceiro pescador, pensando que seus dois companheiros ainda dormiam, fez o mesmo que os outros dois e, como eles, precisou jogar um peixe de volta no mar para que o número de peixes no tanque fosse múltiplo de três. Pegou, então, um terço deles e foi embora.
         Qual o menor número de peixes que havia no tanque para que isso acontecesse?

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         Solução obtida pela “força bruta”
         Você pode atacar esse problema pelo método de “tentativa e erro” ou, se preferir, pelo método da “força bruta”. Por exemplo, suponha que o último pescador tenha encontrado 4 peixes no tanque, o menor número inteiro que, subtraindo‑se 1, é múltiplo de 3 (um número inteiro e não‑negativo, 0, 1, 2, 3 ..., é chamado de número natural). Se o último pescador a ir embora encontrou 4 peixes no tanque é porque o segundo pescador encontrou 7 peixes: jogou um no mar, ficando 6 peixes no tanque, pegou um terço deles, ou seja, 2, deixando 4. Continuando o raciocínio, concluiríamos que para sobrarem 7 peixes no tanque, o primeiro pescador precisaria ter encontrado 11,5 peixes, pois 11,5 menos 1, que ele jogou no mar, daria 10,5. E 10,5 menos um terço (3,5), dá 7. Como 11,5 não é aceitável para uma quantidade de peixes, concluímos que a hipótese inicial, de haver 4 peixes no tanque quando o terceiro pescador acordou, não é possível.
         O menor número seguinte depois do 4 tal que menos 1 é múltiplo de 3 é 7. Mas esse também não serve, pois implicaria em ter o segundo pescador encontrado 11,5 peixes no tanque.
         A próxima tentativa é 10, que é a solução do problema: se o terceiro pescador encontrou 10 peixes é porque o segundo encontrou 16 (16-1=15 que, menos um terço desse valor resulta em 10) e o primeiro, 25 (25-1=24 que, menos 8, dá 10).



         Solução “elegante”
         Tentativa e erro é uma forma legítima de se resolver um problema, embora seja, muitas vezes, uma forma extremamente trabalhosa. Além de trabalhosa, a técnica de tentativa e erro é considerada “feia”, pouco elegante. Matemáticos, físicos e outros cientistas preferem soluções mais elegantes, tanto quando fazem cálculos como quando realizam experimentos. Então, aqui vai uma solução “elegante”.
Vamos, agora, começar com o primeiro pescador a acordar. Mas, inicialmente, vamos preparar as coisas para o raciocínio “elegante”.
         Suponha que o número de peixes no tanque encontrados pelo primeiro pescador seja A. Mas esse número deve ser do tipo A=3B+1, onde B é um número inteiro e não negativo, para que, quando for subtraído 1 seja múltiplo de 3. Assim, o primeiro pescador a acordar jogou um peixe fora, pegou B peixes e deixou 2B no tanque.
         Esses 2B peixes foram encontrados pelo segundo pescador. Pela mesma razão, 2B deve ser um número múltiplo de três mais 1: 2B=3C+1, onde C é um número inteiro não negativo. Esse segundo pescador jogou um peixe na água, pegou C peixes e deixou 2C no tanque, que foram encontrados pelo terceiro pescador a acordar. Como este terceiro pescador precisou jogar um peixe no mar para que sobrassem uma quantidade de peixes que fosse múltiplo de 3, então 2C=3D+1.


         Mas, novamente, 2C=3D+1, sendo D a quantidade de peixes pega pelo terceiro pescador, que deixou 2D no tanque.
         Agora, vamos ao raciocínio elegante.
         Observe que se 2C=3D+1, então, como 2C é necessariamente um número par, D deve ser um número ímpar. Podemos representar um número ímpar na forma 2N+1, onde N pode ser 0, 1, 2, 3 etc. Então, substituindo D por 2N+1 na equação 2C=3D+1, obtemos 2C=6N+4, ou C=3N+2.
         Vamos, agora, substituir esse valor de C na equação 2B=3C+1. Isso resulta em 2B=9N+7. Como 2B é par, então 9N deve ser ímpar e, portanto, N também deve ser ímpar. Como já fizemos, podemos representar esse número ímpar por N=2M+1, onde M=0, 1, 2 etc. Feito isso, temos 2B=18M+16. Dividindo tudo por dois, temos B=9M+8.
         Como A=3B+1, usando esse último valor de B, temos A=27M+25.
         Resumindo tudo isso, as quantidades de peixes encontradas no tanque pelos três pescadores são:
         A=27M+25
         2B=18M+16
         2C=12M+10
         Pois bem, as menores quantidades correspondem a M=0, o que resulta em A=25; 2B=16; 2C=10. Mesmo resultado que foi obtido pelo método de tentativa e erro.
         Uma solução estranha
         A solução com M=0 é aquela correspondente ao menor número de peixes no tanque. Mas M=1, 2, 3 etc. também correspondem a situações nas quais o primeiro pescador joga um peixe fora e tira um terço dos restantes, o segundo pescador faz o mesmo e o terceiro, idem. Por exemplo, M=1 corresponde a 52, 34 e 22 peixes.
Claro que quando um número corresponde a uma quantidade de peixes, ele só pode ser um número natural (0, 1, 2,...). Entretanto, as equações são válida mesmo que M seja negativo. Por exemplo, se  M=‑1, teríamos a seguintes situação: o primeiro pescador encontra ‑2 peixes no tanque; joga 1 fora, ficando com ‑3 peixes; tira 1 peixe, ficando com ‑3‑ (‑1)=‑2; o segundo pescador encontra ‑2 peixes e faz o mesmo, deixando ‑2 peixes para o terceiro. M=‑2, ‑3 etc., também são soluções correspondentes a número inteiros, mas como se trata de quantidade de peixes, abandonamos as soluções negativas. Situações como essas, nas quais existem soluções algébricas para os problemas, mas que não são fisicamente aceitáveis – não existem quantidades negativas de peixes – são bem comuns: soluções algebricamente corretas podem ser descartadas caso não sejam aceitáveis por critérios que nada têm com a matemática.

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